
Parte-se para o terreno com o objectivo de conquistar votos. Essa é a missão de todo e qualquer político em tempo de campanha.
Hoje já não vivemos no tempo de ouro do Speaker Corner, bem ali no centro de Hyde Park. Hoje que por lá passa tira a foto. Quem lá pára, para falar ou escutar, fá-lo ou por distracção, por gosto pela sátira ou por ausência de melhor programa.
Mas teve, é certo os seus momentos áureos, tendo por lá passado Karl Marx, Vladimir Lenin, George Orwell, C. L. R. James, Ben Tillett, Marcus Garvey, Kwame Nkrumah and William Morris, entre outros.
Nos seus bons tempos, no Speaker Corner, propagaram-se bandeiras ideológicas, lançaram-se críticas ao sistema, discutiram-se assuntos sérios da GB e do mundo.
Nos nossos tempos, ir para o terreno, transportar consigo a ideologia, as medidas de política e os programas de Governo trata-se de pedir demasiado. O desprezo pela intervenção ideológica, pela apresentação dos seus programas é de tal modo acentuado junto da generalidade dos líderes políticos que alguns se lançam à campanha sem sequer ter um programa apresentado. Exploram-se as imagens, o populismo de ideias avulsas, tiram-se fotos junto de velhinhos enrugados a quem se presta uma homenagem de circunstância, pedem-se votos.
E nos jornais exploram-se os insólitos de campanha, espelham-se os valores exorbitantes pagos por uma vitória, falam-se das banalidades da vida privada dos candidatos. Por vezes apresentam-se as medidas, quando existem, dos candidatos, mas a entropia é tal que o essencial não passa.
Os políticos, e os seus assessores, esforçam-se por fazer passar a imagem de homens comuns, de bem e preocupados com os problemas sociais e económicos do eleitorado (que neste momento é o que interessa; os cidadãos são hoje um conceito demasiado lato para que se possam agradar a todos). Escrevem nas redes sociais, publicam-se e republicam-se. Aparecem mas não comunicam. Recebem mensagens críticas a que não respondem. Mas elas estão lá, não as apagam (a censura já não mora ali). Mas não lhes respondem ou dão, sequer, sinal de as terem lido. Nem sempre é assim, é certo. Mas é frequentemente comum que assim seja.
Informa-se pouco. A comunicação não melhorou apesar do avanço das redes sociais.
A dificuldade em comunicar com o político estará sempre limitada pela circunstância da reeleição. O poder é o elemento central da política, é consensual. Mas o poder dever ter uma função lógica, assim se espera. As circunstâncias e o calculismo político, recentemente utilizados na cena Nacional, têm custos muito altos para a Democracia. Utilizar os timings em função de oportunidades eleitorais são jogadas altas num tabuleiro demasiado complexo que é o Estado.
Artigo Publicado no site da Revista Sábado
Rui Estêvão Alexandre
1 comentário:
Apreciação muito lúcida. Aplaudo!
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