O LEGADO DE ABRIL NA HISTÓRIA DE UM PORTUGAL DEMOCRÁTICO

Vasco Lourenço e Alfredo Barroso - Num jantar que contou com mais de uma centena de pessoas, Vasco Lourenço e Alfredo Barroso partiram as suas memórias e evocaram os valores de Abril e o legado da "Revolução dos Cravos" na história de um Portugal democrático.

JOSÉ LUÍS JUDAS NO JANTAR DO CLUBE A LINHA

O Clube A Linha contou com a presença de José Luís Judas onde foi especificamente abordado o processo de concepção e execução da estratégia e do projecto que conduziu à vitória do Partido Socialista nas eleições autárquicas em Cascais, com o slogan "mudança tranquila".

VÍTOR RAMALHO NO CLUBE A LINHA

Vítor Ramalho, Presidente da Federação de Setúbal do PS, recordou a matriz genética do partido Socialista, debruçando-se especificamente sobre os desafios autárquicos com que o PS se vê confrontado no Distrito de Setúbal, apresentando a estratégia política seguida nas últimas eleições autárquicas, bem como o caminho que se está a trilhar naquele distrito.

OS DESAFIOS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

Vieira da Silva e Pedro Marques - Cascais acolheu José António Vieira da Silva e Pedro Marques para mais um debate promovido pelo Clube A Linha, onde os convidados partilharam com o auditório, a sua visão sobre os desafios que Portugal enfrenta em matéria de crescimento económico.

OS DESAFIOS AUTÁRQUICOS DE 2013: CONTRIBUTOS PARA A ACÇÃO POLÍTICA

José Junqueiro - Perante um auditório lotado, José Junqueiro sublinhou a importância das próximas eleições autárquicas para o Partido Socialista, onde se irão sentir pela primeira vez os efeitos da limitação de mandatos.

sábado, 22 de novembro de 2008

João Martins Pereira: A Esquerda – Critério e Atitude. (um excerto)

Se a Esquerda é projecto, ela tem de constituir um sistema de ideias, que só o será se existir um critério (ou critérios) que o estruture(m). As ideias poderão ir evoluindo – pois não só o debate não tem fim, como ir-se-á modificando o contexto em que ele decorre -, mas aquilo que as liga e interrelaciona, que as estrutura enquanto projecto, terá de manter--se constante. […] Para não me alongar demasiado, exemplifico: o critério de emancipação ou de «libertação», se preferirem. Ao pronunciar-se sobre tudo - e a Esquerda tem de pronunciar-se sobre tudo - parece aceitável que o conceito de emancipação deverá ser um elo de ligação permanente entre todas as ideias do sistema. o que já não é indiscutível é o próprio conceito de emancipação, que ele-próprio para ser «operacional», merecerá discussão, elaboração, «aperfeiçoamento». Em termosideais, dir-se-á que é emancipador tudo o que aproxime um indivíduo do ser plenamente responsável que «teoricamente» é. Será pois emancipador tudo o que tenda a reduzir os constrangimentos sociais, económicos e culturais que limitam a liberdade de escolha ou decisão do "indivíduo em sociedade". Cito apenas um caso comezinho: a Educação é geralmente considerada como um factor de emancipação. Mas que Educação? Um sistema educativo concebido por forças conseryadoras será tendencialmente conformista e visará manter intactos os constrangimentos sociais pré-existentes - embora seja sempre um risco, e os fascismos bem o sabem, agindo em consequência. Para a Esquerda, pelo contrário, a Educação só será emancipadora se alargar os horizontes intelectuais dos educandos, se lhes despertar a imaginação e os sentidos, se for capaz de os interessar na mais apaixonante das aventuras - a da responsabilidade, individual e colectiva, a da vida que se recomeça a cada instante. Daqui decorrerá a ideia de Educação, para a Esquerda. Pensarão alguns que o Socialismo faz parte da ideia de Esquerda. É errado, a meu ver. Terá sido certo enquanto não houve «socialismos reais»; - o socialismo era então apenas uma ideia, um projecto. Hoje não é assim. Tantos são os regimes que a si mesmos se rotulam de "socialistas», que a Esquerda não pode ignorar essas experiências, submetendo-as ao critério da emancipação. O seu conceito de socialismo incorporará necessariamente os resultados desse exame
crítico, mas não coincidirá porventura com nenhum dos «modelos» já experimentados. Fará, conjuntamente com muitos outros elementos, todos, positiva ou negativamente inter-implicados, parte do projecto que é a Esquerda, não da ideia de Esquerda. Como me não proponho apresentar nenhuma teoria, nem esgotar os temas, mas apenas sugerir pistas, passo a outra delicada questão: a relação entre a ideia de Esquerda e os homens de Esquerda. Já vimos que são os homens que produzem as ideias, não a partir do zero, mas por "confrontação" entre as ideias pré-existentes (produzidas por anteriores gerações) e a sua própria experiência, no mais lato sentido. A ideia de Esquerda, como todas as outras, está assim em permanente construção. Recordo aqui, a propósito, uma interessante distinção assinalada por A. J. Saraiva, há muitos anos, num artigo de jornal sobre a tradução portuguesa do francês ««engagement». Propunha ele uma dupla tradução, correspondente ao duplo sentido da palavra original: por um lado, alistamento, por outro, empenhamento. Alistamento corresponderia ao «engagement» numa tropa, numa organização, num partido. Pressupõe uma adesão a regras pré-estabelecidas, uma atitude dominantemente passiva, «irresponsável». Ao contrário, o empenhamento é uma auto-mobilização de natureza emotivo-intelectual, uma atitude activa em que assumimos perante nós e perante os outros uma total responsabilidade, o risco de não termos quem nos "cubra" em juízos, afirmações, decisões, actos em que nos jogamos por inteiro. É evidente que' se aceitarmos os postulados feitos quanto à ideia-ideal de Esquerda, os homens de Esquerda deveriam ser homens empenhados, não alistados. Talvez melhor, para manter os pés na terra, homens empenhados mesmo quando alistados. A desconfiança endémica dos políticos em relação aos intelectuais que aderiram aos respectivos partidos, muito em particular na área da «esquerda» por razões óbvias, deriva justamente de os saberem militantes não-como-os-outros. De facto, se se assumirem como intelectuais (adiante voltaremos a este ponto), eles serão militantes incómodos' que parecem estar sempre a pôr em causa o que os dirigentes consideram mais do que «adquirido», que colocam questões que nada têm a ver com as próximas eleições ou com o acesso deste ou daquele aos centros do Poder (no partido e fora dele), enfim, que «desestabilizam» o aparelho. Mas atenção: falámos de empenhamento de natureza emotivo-intelectual. Isto é, homens de esquerda não são exclusiva nem predominantemente, os chamados «intelectuais». Num texto que em tempos publiquei, a propósito dos militantes e da militância, tive ocasião de distinguir ao nível das lutas e iniciativas concretas que se multiplicaram em 74-15 por todo o país, os militantes «alistados» dos «empenhados», sem assim os designar na altura. Os militantes empenhados eram os activistas locais que, partindo de necessidades colectivas do seu «pequeno mundo», se mobilizavam e mobilizavam os outros para lhes dar resposta, jogando nisso afectividade, energia e inteligência, índependentemenle de quaisquer orientações partidárias. Aí estava a Esquerda, e é aí que também continuará a estar. Outro exemplo: a revolta do mais ignorante e carecido contra situações concretas de injustiça pode ser vivida na passividade e na impotência' mas também pode dar lugar a um alistamento, se se decide transferir para uma organização a gestão dessa revolta, ou a um empenhamento, se se assume a responsabilidade de uma acção colectiva *exemplar" para fazer frente a tais situações.

Extraído de «Sobre a Esquerda: 1 – A ideia e os intelectuais», No Reino dos Falsos Avestruzes. Um olhar sobre a política, A Regra do Jogo, 1983.

Foto: Público.

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