Tal sentimento de incompatibilidade entre Ética política e Marketing não tem razão de existir, se soubermos o que é o Marketing e se este for correctamente aplicado.
A palavra Marketing vem do termo “market” (mercado) e diz respeito ao estudo dos mercados, em particular à recolha e tratamento de informação sobre as necessidades e preferências dos públicos-alvo, bem como à concepção das estratégias de produto e de comunicação, sendo que estas devem resultar da informação recolhida e dos objectivos da organização.
Na política, conhecer os desejos e as necessidades dos cidadãos nada tem de negativo. Pelo contrário, não é ignorando o sentimento e a vontade das populações que se consegue fazer um programa político coerente com uma ideologia e em simultâneo aderente à realidade. Não se trata de ir ao sabor da opinião pública em detrimento das propostas que consideramos mais justas. Trata-se de melhorar a forma de fazer chegar as nossas ideias e de obter mudanças de atitude por via de uma comunicação mais eficaz.
O Marketing, como qualquer ferramenta, pode ser bem ou mal utilizado. Não é o Marketing Político que está em causa, mas sim a sua utilização e, porque não escrevê-lo, os escrúpulos dos políticos que o usam. Podem usá-lo bem. Por vezes usam-no mal.
Exemplos de bom uso:
- ouvir atentamente e tratar de forma assertiva os cidadãos nas sessões públicas dos órgãos autárquicos (neste domínio a atitude de António Capucho não é exemplar).
- conhecer bem as opiniões do público, em vez de ir no embalo de conversas de auto-satisfação interna do tipo “eles não se entendem” ou “é um marasmo” (atenção PS!).
- ganhar credibilidade junto da população reconhecendo os erros e simultaneamente comunicando os sucessos e os progressos realizados.
Exemplos de mau uso:
- o aproveitamento das falhas de execução dos investimentos municipais para obter um superavit orçamental e depois fazer um show-off com esse superavit anunciando a sua utilização em investimentos (os mesmos ou outros) a meio do ano seguinte. Isto foi o que António Capucho fez e não é bom uso do Marketing, mas sim propaganda.
- saber-se pelas sondagens que um Partido num determinado município tem a vitória assegurada, independentemente do candidato, e provocar movimentações internas, nomeadamente transferências de militantes entre secções, para conquistar poder dentro do Partido ganhador. Isto acontece quando o Marketing é utilizado sem escrúpulos por grupos particulares de interesses.
- fazer campanhas com promessas irrealistas. Nalguns públicos o descrédito é imediato. Noutros, a desilusão vai engrossar o grupo dos abstencionistas.
O objectivo deste texto foi o de contribuir para desfazer os preconceitos em relação ao Marketing, porque muitas vezes as ferramentas precisam de marketing para serem compreendidas e bem usadas. O Marketing Político não é excepção.
Miguel Figueiredo
Mestre em Gestão (área de Marketing) pelo INDEG / ISCTE
Membro da Assembleia Municipal de Cascais
Membro-fundador do Clube de Reflexão Política “A Linha”
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