Soares começou por se referir à actual crise financeira económica, global e sistémica como uma crise “sem paralelo no nosso tempo”, cujo epicentro se localizou nos E.U.A. e rapidamente se difundiu para o resto do mundo, apontando como a sua principal causa a política neo-liberal e o respectivo modelo de “economia de casino”, para que o prório Marios Soares tem vindo a alertar desde 2004 e cuja perpetuação se vislumbrava impossível.
Relativamente à reacção do Governo português a esta crise, Mário Soares considera que embora
tenha despertado algo tardiamente para a sua gravidade, logo que se deu conta da sua dimensão e desde então, tem feito tudo o que está ao seu alcance para combater os respectivos efeitos,
nomeadamente, ao ter tomado as medidas indispensáveis para evitar uma corrida aos Bancos em
Portugal.
No entanto, a este respeito, Mário Soares sublinha que dos partidos da oposição apenas se viram
avisos pontuais e sempre de natureza incipiente e casuística.
Referindo-se à condição de Portugal como país mais desigual da União Europeia, Mário Soares
classificou-a de vergonhosa e alertou para a congénita falta de auto-estima dos portugueses enquanto povo e nação, sendo fundamental combater o pessimismo, que previsivelmente crescerá no nosso país nos próximos tempos.
Em ano eleitoral, Soares chamou a atenção para os perigos do surgimento por parte dos partidos da oposição da chamada política do “quanto pior melhor” que assenta na perigosa tentação de explorar de forma irresponsável o descontentamento popular, susceptível de tornar o país ingovernável.
Em seu entender existe uma crise generalizada em todos os partidos políticos, visto que a sua estrutura mental ruiu com os recentes acontecimentos nos E.U.A.. Referindo-se à vitória de Barack Obama, como “uma revolução pacífica”, Soares considera que os E.U.A. dão sinais de estarem a reagir bem à crise, ao contrário da União Europeia, que tarda em mudar de paradigma, não parecendo avaliar devidamente o fenómeno de forma a poder retirar daí as devidas ilações.
No que concerne à política externa e mais concretamente à OTAN, a mesma ter-se-à transformado num braço-armado da Administração Bush, tendo dado como exemplo a intervenção no Afeganistão, a qual está, por um lado, fora do âmbito da vocação defensiva desta organização internacional e por outro, situada para lá dos limites do espaço Atlântico. Apoiando Obama na sua intenção de acabar com a guerra no Iraque, Soares considera que o novo Presidente dos E.U.A. “fará mal“ caso não ponha também um fim à guerra afegã.
Soares destacou as inúmeras potencialidades do nosso país e os respectivos desafios, com que nos confrontamos, os quais nos devem, aliás, estimular. A este respeito Mário Soares refere como uma das nossas maiores riquezas “a matéria cinzenta dos portugueses”. Efectivamente, Portugal tem hoje elites científicas, culturais e artísticas reconhecidas e respeitadas nos quatro cantos do mundo.
Em 34 anos de Democracia, Portugal assistiu a progressos sem paralelo que importa ter presentes. Vivemos numa Democracia representativa que funciona e permitiu a governabilidade do país.
O mar é outra das nossas potencialidades. Contudo, apesar de ser “o nosso destino e a nossa glória” terá de ser assumido como uma efectiva prioridade nacional.
À privilegiada situação geo-estratégica de Portugal, assente no paradigma Euro-Atlântico que contraria a ideia do "país periférico", deverá ser dado um novo impulso nas relações com os países lusófonos, já de si muito boas.
Esta nossa "riquíssima experiência” permite ao antigo Presidente acreditar no nosso futuro colectivo.
Paulo C. Ferreira
A Linha
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