O Dr. Carlos Monjardino enquadrou as consequências da actual crise na realidade portuguesa actual. Lembrou que, em Portugal, é considerado o valor mensal de 395€ como o limiar da pobreza , e que existe um número significativo de portugueses que se encontram próximo desse referencial sendo, agora, previsível que essa parte da população possa aumentar substancialmente. No seu entender é bastante preocupante o visível empobrecimento de um vasto conjunto de cidadãos cuja anterior situação era claramente mais favorável e que, em muitos casos, tinham expectativas de vida bastante acima dos padrões com que estão confrontados.
Dentre os grupos que se lhe afiguram estar mais ameaçados face ao evoluir da crise encontram-se, para além dos pobres de longa duração, os "novos pobres", os desempregados e os jovens. Muitos dos "novos pobres" são pessoas que se vêm empurrados para esta situação em consequência da precariedade do seu emprego, pela desarticulação das suas condições de vida ou por terem alcançado elevados níveis de endividamento. O desemprego é, neste quadro, um factor determinante que já tem proporções muito preocupantes e que poderá ainda vir a aumentar para valores na ordem dos 10%.
Os jovens são também um sector da população que, no entender do Dr. Carlos Monjardino, enfrenta uma situação particularmente difícil e complexa. Grande parte configura o que é vulgarmente designado pela "geração do 500 €" isto é subsiste com baixos vencimentos, quase sempre na modalidade de "recibos verdes", sem qualidade nem segurança. Muitos possuem formações académicas que justificariam a expectativa de poderem dispor de condições de vida bastante mais confortáveis. Pela primeira vez corre-se o risco de que uma geração venha a não ter melhores condições do que a geração que a antecedeu, apesar dos progressos assinaláveis nos níveis da sua formação.
Apesar de considerar que o governo português tem adoptado medidas que visam responder à situação, Carlos Monjardino, salientou que face à dimensão internacional do problema Portugal irá ser bastante afectado nomeadamente com o agravar da crise em Espanha, Reino Unido e Alemanha. Considerou, no entanto, haver esperança de que a partir de 2010 se inicie o processo de retoma do crescimento económico sobretudo se nos Estados Unidos da América forem adoptadas políticas que permitam alterar a realidade presente.
A crise actual assinala a implosão de um paradigma capitalista à escala global. O abuso incontrolado da "financialização", a ausência de credibilidade nos mecanismos de gestão de risco e o inflacionamento de uma bolha especulativa que obrigatoriamente teria que "rebentar" foram determinantes para o eclodir de uma crise que está longe de estar ultrapassada e que poderá ainda vir a ter novos e preocupantes desenvolvimentos, tanto mais que algumas medidas que estão a ser adoptadas no plano internacional parecem inscrever-se na mesma lógica do paradigma que falhou.
Algumas ilusões de que a crise não iria afectar partes da economia internacional nomeadamente em países como a China, o Brasil ou a Índia revelam-se erradas. Todo o Mundo está a braços com um problema grave que tende a prolongar-se e face ao qual são necessárias medidas globais e corajosas.
Dentre várias que considerou urgentes, João Cravinho destacou a necessidade de alterar o sistema informacional económico-financeiro, de rever o funcionamento dos mercados financeiros e de criar novos instrumentos de financiamento designadamente ao 'nível micro'. Alertou para o facto de que a chamada auto-regulação evidenciou-se como uma perigosa falácia e que se impõe a criação de uma "comissão de segurança" financeira à semelhança do que, por exemplo, existe para os produtos farmacêuticos,.
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