Depois de um breve vídeo noticioso apresentando a relação entre poder político e comunicação social em França, destinado a lançar o debate, o moderador do debate, Carlos Leone, enquadrou esta sessão no panorama português actual, marcado por aquilo que designou de «judicialização da vida pública do país», indicando vários pontos de contacto entre as esferas da comunicação social e do poder político com a do sistema de justiça.
Na sua intervenção inicial, Arons de Carvalho começou por fazer um balanço dos últimos quatro anos, afirmando aguardar ainda por uma correcção das injustiças ditas ainda recentemente pelos críticos do actual estatuto do jornalista. Prosseguiu a sua intervenção comparando a situação actual no campo da liberdade de fundação de empresas jornalísticas com o tempo em que foi secretário de Estado da Comunicação Social, notando melhorias, diferenciando a liberdade da comunicação social nacional (grande) da regional (dependente de subsídios dos poderes locais) e da imprensa desportiva (dependente de fontes nos grandes clubes). A concluir, o deputado chamou a atenção para a liberdade interna dos jornalistas nos seus órgãos de comunicação social e sublinhou algumas das limitações reveladas em Portugal no campo da auto regulação jornalística.
Respondendo de imediato a algumas das observações feitas, Alfredo Maia começou por notar que o PS honrou os seus compromissos eleitorais no caso da lei sobre a concentração da propriedade dos media. Contudo, o Presidente do Sindicato dos Jornalistas apontou algumas falhas que importa corrigir no âmbito da protecção de direitos de autor dos jornalistas (aspecto que Arons de Carvalho entendeu ser dificilmente legislável por interferir com o modo de produção normal dos órgãos noticiosos). Ainda no decurso da sua intervenção inicial, Alfredo Maia destacou o risco de a actual lei da conservação de comunicações sabotar o direito do jornalista a não revelar as suas fontes e terminou salientando como o actual clima empresarial reforça a precariedade na profissão e facilita a censura económica.
Estas intervenções suscitaram de imediato debate, quer entre os oradores quer com o público. Entre muitas das questões abordadas foi dado especial enfoque à relação entre os políticos e os jornalistas, em especial ao ataque generalizado por parte destes à imagem pública dos políticos, o que vem reforçar a desconfiança e a descrença dos cidadãos perante os políticos. Sobre esta questão, Alfredo Maia reconheceu a existência lamentável de um tipo de jornalismo, a que chamou de “jornalismo de matilha” que procura promover este sentimento junto da sociedade civil.
Foram ainda colocadas questões por parte de jovens jornalistas, que se centraram em torno de questões éticas e deontológicas, em especial na busca de orientações sobre a forma de actuação no mercado de trabalho, passando pela eterna questão de quem determina efectivamente as agendas mediáticas nacionais, i.e., se estas são definidas pelos proprietários dos órgãos de comunicação social ou pelos seus jornalistas. Perante a interpelação ao moderador, a respeito da eventual hipótese de o poder presidencial poder servir de moderador aos excessos do jornalismo, a ideia pareceu pouco viável, a qual foi partilhada aliás pelos outros convidados.
Foram ainda abordadas questões em torno da preponderância dos jornalistas nos gabinetes ministeriais e suas limitações e a possibilidade do cooperativismo jornalístico ser uma alternativa exequível para o surgimento de novos órgãos de comunicação social.
Esta troca de ideias manteve aceso o debate mais de hora e meia até, já perto da meia-noite, ter sido necessário dá-lo por encerrado.
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