O camarada Arons de Carvalho, fundador do Partido Socialista, dispensa apresentações. Na sequência de participação anterior em iniciativas de A Linha, acedeu a falar-nos sobre temas da sua área de especialização profissional, a comunicação social (Professor da Universidade Nova de Lisboa), sobre a qual a sua acção política é igualmente bem conhecida.
1 - Quer apresentar-nos a sua visão da actual polémica sobre comunicação social a respeito do Governo?
Não existe em Portugal qualquer problema de liberdade da comunicação social. O nosso país está entre aqueles, em todo o mundo, onde a comunicação social é mais livre e plural. A legislação consagra de uma forma ampla os direitos dos jornalistas e da comunicação social e o facto de termos tido um processo tardio de formação de grupos nesse sector limita (ainda?) o processo de concentração.
Esta é pois uma falsa polémica, criada para desgastar a imagem do Governo e do primeiro-ministro.
2 – Considera que o PS se tem mantido pouco activo ao longo destas polémicas? E que unidade ou que diversidade de posições encontra no partido?
Sempre que o PS está no Governo, existe uma tendência para diminuir a vida interna do partido. Ao mesmo tempo, o centro de decisões passa muito mais pelo Governo do que pela direcção ou estruturas do partido. Isso já aconteceu no passado com Soares e Guterres. Esta tendência limita muito também a diversidade de posições no partido, onde as pessoas, mesmo que discordem de algumas mediadas ou políticas, tendem a valorizar mais a solidariedade com a liderança. Isso é ainda especialmente importante, numa fase de grandes dificuldades económico-financeiras e sociais, como as que o país atravessa.
3 – Como avalia a situação actual do conflito político, na Assembleia, entre S. Bento e Belém, na «rua»? Antevê conflitualidade social em 2010 como a de 2008? Ou prevê outro tipo de disputa?
Creio que até ás eleições presidenciais não haverá um agravamento do conflito entre S. Bento e Belém. No entanto, perante a inevitabilidade de medidas drásticas que significarão uma diminuição dos rendimentos das pessoas e o aumento ou manutenção do desemprego em níveis elevados, temo que a conflitualidade social e política não diminua.
4 - 100 anos após a implantação da República o que está feito e o que está por alcançar?
Portugal é hoje um país diferente, embora fiel aos valores republicanos. Mas falta, mais desenvolvimento e justiça social. O fosso entre ricos e pobres, ainda que tenha diminuído nos últimos anos, continua a ser dos mais elevados da Europa.
5 – Quais são os maiores desafios do Partido Socialista para os próximos anos?
Julgo que teremos dois grandes desafios. O primeiro será o de combater a actual crise, fiéis aos nossos valores de sempre. O segundo será o de manter a nossa identidade de forma a continuarmos um grande partido da esquerda democrática.
6 – Que mensagem deixaria à Linha?
Continuem a manter o vosso espaço de intervenção e debate! Parabéns!
Alberto Arons de Carvalho
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