Terminou ontem à tarde a visita do Presidente Chinês, Hu Jintao, a Portugal. Com o Presidente vieram dezenas de empresários chineses apresentados por diversos órgãos de comunicação social como a solução para os diversos males da economia Nacional.
Mas, num momento de agonia como o que presentemente vivemos em Portugal, deveremos olhar de forma naif para esta “total disponibilidade” da economia chinesa em investir em Portugal? Quais os limites destes investimentos e quais as áreas proibidas?
Portugal vem alimentando há já longos anos uma relação com a Aliança Atlântica. Portugal é membro fundador da NATO, é membro da União Europeia e é um aliado de décadas dos EUA.
Todavia, é precisamente destes aliados que têm vindo as piores notícias para a economia portuguesa, especialmente as veiculadas pelas agências de rating.
Mas a crise internacional, que arrastou consigo a nossa frágil economia, colocou os nossos decisores políticos perante a responsabilidade de decidir o nível de confiança que devemos atribuir a eventuais parceiros chineses.
Se, por um lado, as agências de rating se arrogaram ao papel de Reguladores do papel económico dos Estados, por outro lado qual a liberdade dos Estados negociarem com outros Estados cujas economias não recolhem a simpatia destas agências. A questão que se coloca é que sinais está Portugal a dar aos mercados e às agências de rating aparecendo de mãos dadas com este regime dual?
Qual a verdadeira importância económica da China para Portugal? Esta é uma questão fundamental, uma vez que os valores globais (em M€) das exportações de Portugal para China (206 803 869 €) são similares aos das exportações para Cabo Verde (222 532 026 €) ou para Marrocos (205
282 310 €). Sendo os valores globais das exportações portuguesas para a China tão próximos com os dos Estados apresentados ou ligeiramente superiores aos das exportações para os restantes países da UE, deveremos, de facto, considerar a China como um mercado estratégico para Portugal?
Decerto o inverso não se mede pela mesma bitola. Apesar de a China não estar entre os nossos maiores mercados de importação, Portugal apresenta-se como um Estado de amizade estratégica, isto é, relações privilegiadas com Portugal poderão apresentar-se como uma abertura de portas para mercados tão relevantes como o de Angola (fundamental para a China enquanto fornecedor de matérias primas) ou o do Brasil, que se apresenta como um emergente mercado de consumo. Portugal está no meio e funcionará, assim a China o espera, como um facilitador de negócios.
Em troca a China assume o risco de investir em alguns dos sectores, tal como a banca, que é dos poucos que ainda vai tendo lucros, ou na sempre fiável dívida soberana.
A China é, de facto, um Estado em crescimento porém já não tão acentuado como até aqui vinha atingindo. Mas não deixa por isso de ser um enorme mercado. Resta saber se Portugal tem capacidade para se posicionar como um exportador de peso para a China. Ou então não passará de um peão num tabuleiro em que os actores jogam (e pagam) forte.
Rui Alexandre
Polítólogo
Clube de Reflexão Política A Linha
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