“Aí vai um homem morto a correr!” Morto politicamente, claro está. Ouvi a expressão agora mesmo na TV (nem a propósito) e achei que está tão bem para a situação como uma lata de salsichas Nobre está para um ovo mexido!
Este post não é mais, e não pretende ser, do que a entrevista de Fernando Nobre ouvida e analisada por um comum português! Tão comum que até, em pequenino, chegou a correr atrás de galinhas (e à frente também) no Alentejo. Em Portugal, como nas missões de Fernando Nobre, é normal correr atrás de galinhas. Porém eu fi-lo sem uma missão da AMI por perto. Serei eu assim tão comum?
Sentei-me no sofá, caderno na mão, disposto a ouvir e a escrever o que Nobre iria dizer. Não que as palavras mereçam ficar para a eternidade, mas sim porque a qualquer momento poderá ser útil confrontá-las com outras do mesmo indivíduo, para um eventual despiste de sintomas de Alzheimer. Não de Nobre, mas meu.
Nobre começou por dizer “Não pedi, não negociei e não exigi nada. Eu sou livre e independente.” Não duvido que não tenha exigido. Considero Passos calculista o suficiente para começar a conversa oferecendo. Nobre foi livre de aceitar ou não. Aceitou e a independência caiu-lhe aos pés.
“Condeno o ataque concertado à página do Facebook.” Considerar que escassos minutos após o anúncio de que do Sri Lanka vinham mais más notícias, estas para Portugal, é confiar demasiado na capacidade de organização da sociedade civil. Ou será que esta já estaria preparada para a notícia bombástica?
“Dois terços da estrutura directiva da minha campanha está comigo.” Sinceramente duvido. Mas muito bem, partamos do princípio que é verdade. Duvido que consigo estarão muitos mais do que esses escassos dois terços. E não esqueçamos que grande parte deles são família, tal como na própria AMI. Mas sendo verdade, parece-me que o candidato a Deputado Nobre, que se diz de esquerda do pondo de vista humanitário, esteve na sua campanha rodeado de gente, das duas uma, ou de direita (e da mais liberal); ou politicamente naif, tal como o próprio candidato parece ser.
“Não aceito o insulto organizado.” Vi, é um facto, muitos insultos a Nobre. Mas vi muito mais indignação, crítica e repúdio ao apoio que lhe fora dado. Isso não é insulto é seriedade.
“Eu sou apenas dono do meu voto.” Podia tê-lo dito na campanha para as presidenciais. Teria sido mais honesto e revelador de que o tinha a soldo.
“Eu já geri muitas equipas. Estou em condições de gerir deputados.” Os deputados não representam equipas. Representam eleitores que confiam em determinados programas, partidos e candidatos. Acreditar que gerir 230 deputados é igual a gerir uma qualquer empresa têxtil, ou uma qualquer missão humanitária, é aterrador!
“Sou um homem de esquerda.” Eu sou um homem de esquerda e sei que ser um Homem não é o que Nobre acha que é.
“Falei por três vezes com Pedro Passos Coelho … confio no homem.” Das duas uma. Ou foi hipnotizado ou é de fácil sedução, uma vez que nem sequer foi necessário abanar com programas partidários humanistas e solidários. Será que Nobre acredita que o ultra-liberal PSD de Passos lhe dará campo para devaneios humanitários?
“Já tinha decidido votar no PSD antes do convite? (pergunta de Fátima Campos Ferreira) “Não.” Esta nem merece qualquer comentário.
O meu agradecimento à jornalista que, apesar de tudo, conseguiu garantir alguma normalidade à entrevista. O resto parece Dalí! Surreal.
Rui Estêvão Alexandre
Texto publicado no Blogue de Esquerda da Revista Sábado
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