Numa das múltiplas e diversas iniciativas promovidas e organizadas pelo Clube de Reflexão Política a Linha, o então convidado, José Luís Judas, ironizou dizendo que estava agradado com a governação de António Capucho, pois este, desde a sua eleição em 2001, não tinha feito mais do que “cortar as fitas de inauguração” que herdou da governação PS. António Capucho que, iniciando o seu último e terceiro mandato à frente da Câmara Municipal de Cascais, acabou por suspender o seu mandato em Fevereiro deste ano, primeiro, alegando razões de saúde, depois, alegando razões pessoais. Põe-se a hipótese de haver, talvez uma terceira razão: puro calculismo político. Ora vejamos. No dia seguinte à sua vitória eleitoral, em 2009, numa entrevista à Caras, Capucho declarou estar consciente do muito trabalho que ainda havia por fazer nos quatro anos seguintes à sua eleição, havendo muito trabalho por desenvolver para concluir o seu projecto. Menos de um ano e meio depois estaria a comunicar o abandono de Cascais e do “seu projecto”.
Poder-se-ia dizer “resta a dúvida”, não fora a mágoa que Pedro Passos Coelho lhe instaurou por ter preferido Fernando Nobre para a Presidência da Assembleia da República do que a ele – recusando liminarmente ser a segunda opção. Desde que abandonou Cascais, as suas intervenções têm vindo a aumentar ao ponto de se tornarem uma voz constante comentando as decisões do Presidente do PSD sobre este ou aquele nome, para este ou aquele cargo. O clímax fiou registado publicamente pela carta “aberta” que dirigiu ao Presidente do seu partido, comprovando a sua irritação por ter sido escolhido para segundo.
Com uma só movimentação, em Fevereiro, António Capucho criou uma sucessão dinástica do PSD na Câmara de Cascais e colocou-se a jeito para ser ministeriável, uma vez que cheirava a vento de oportunidade pela Assembleia da República. Ironia do destino, o candidato que Pedro Passos Coelho tanto ambicionava ver como número dois da República Portuguesa acabou por ser rejeitado ontem por todos os deputados presentes na votação, incluindo alguns do próprio PSD.
O vento de oportunidade acabou por se revelar um vendaval de ridicularização de opções e posicionamentos, verificado pelo facto de que, depois de Nobre se ter retirado, nem mesmo agora Passos Coelho convida Capucho para o cargo. O calculismo político e oportunismo barato ficarão confirmados se Capucho, entretanto, voltar para a Câmara de Cascais, uma vez que quando saiu disse que podia não ser definitivo. Pudera!
Voltando às declarações de Judas, há, portanto, no que diz respeito à política, uma dualidade entre oportunismo e pragmatismo. De um lado, existe alguém que trabalha, que desenvolve, que mobiliza, que dinamiza e que é dotado de um forte sentido pragmático e inclusivo de serviço e liderança. De outro, alguém que aproveita os ventos de um oportunismo oco, sem trabalho efectivo e sem consistência. Esta reflexão pode extrapolar-se para outros espectros políticos e não políticos e haverá, em Cascais, mais quem possa beneficiar com esta reflexão, pois os Cascalenses estão atentos ao dualismo e sabem escolher entre o oportunismo e o pragmatismo.
Crónica semanal de João Elyseu
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