O LEGADO DE ABRIL NA HISTÓRIA DE UM PORTUGAL DEMOCRÁTICO
Vasco Lourenço e Alfredo Barroso - Num jantar que contou com mais de uma centena de pessoas, Vasco Lourenço e Alfredo Barroso partiram as suas memórias e evocaram os valores de Abril e o legado da "Revolução dos Cravos" na história de um Portugal democrático.
JOSÉ LUÍS JUDAS NO JANTAR DO CLUBE A LINHA
O Clube A Linha contou com a presença de José Luís Judas onde foi especificamente abordado o processo de concepção e execução da estratégia e do projecto que conduziu à vitória do Partido Socialista nas eleições autárquicas em Cascais, com o slogan "mudança tranquila".
VÍTOR RAMALHO NO CLUBE A LINHA
Vítor Ramalho, Presidente da Federação de Setúbal do PS, recordou a matriz genética do partido Socialista, debruçando-se especificamente sobre os desafios autárquicos com que o PS se vê confrontado no Distrito de Setúbal, apresentando a estratégia política seguida nas últimas eleições autárquicas, bem como o caminho que se está a trilhar naquele distrito.
OS DESAFIOS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO
Vieira da Silva e Pedro Marques - Cascais acolheu José António Vieira da Silva e Pedro Marques para mais um debate promovido pelo Clube A Linha, onde os convidados partilharam com o auditório, a sua visão sobre os desafios que Portugal enfrenta em matéria de crescimento económico.
sábado, 22 de novembro de 2008
João Martins Pereira: A Esquerda – Critério e Atitude. (um excerto)
crítico, mas não coincidirá porventura com nenhum dos «modelos» já experimentados. Fará, conjuntamente com muitos outros elementos, todos, positiva ou negativamente inter-implicados, parte do projecto que é a Esquerda, não da ideia de Esquerda. Como me não proponho apresentar nenhuma teoria, nem esgotar os temas, mas apenas sugerir pistas, passo a outra delicada questão: a relação entre a ideia de Esquerda e os homens de Esquerda. Já vimos que são os homens que produzem as ideias, não a partir do zero, mas por "confrontação" entre as ideias pré-existentes (produzidas por anteriores gerações) e a sua própria experiência, no mais lato sentido. A ideia de Esquerda, como todas as outras, está assim em permanente construção. Recordo aqui, a propósito, uma interessante distinção assinalada por A. J. Saraiva, há muitos anos, num artigo de jornal sobre a tradução portuguesa do francês ««engagement». Propunha ele uma dupla tradução, correspondente ao duplo sentido da palavra original: por um lado, alistamento, por outro, empenhamento. Alistamento corresponderia ao «engagement» numa tropa, numa organização, num partido. Pressupõe uma adesão a regras pré-estabelecidas, uma atitude dominantemente passiva, «irresponsável». Ao contrário, o empenhamento é uma auto-mobilização de natureza emotivo-intelectual, uma atitude activa em que assumimos perante nós e perante os outros uma total responsabilidade, o risco de não termos quem nos "cubra" em juízos, afirmações, decisões, actos em que nos jogamos por inteiro. É evidente que' se aceitarmos os postulados feitos quanto à ideia-ideal de Esquerda, os homens de Esquerda deveriam ser homens empenhados, não alistados. Talvez melhor, para manter os pés na terra, homens empenhados mesmo quando alistados. A desconfiança endémica dos políticos em relação aos intelectuais que aderiram aos respectivos partidos, muito em particular na área da «esquerda» por razões óbvias, deriva justamente de os saberem militantes não-como-os-outros. De facto, se se assumirem como intelectuais (adiante voltaremos a este ponto), eles serão militantes incómodos' que parecem estar sempre a pôr em causa o que os dirigentes consideram mais do que «adquirido», que colocam questões que nada têm a ver com as próximas eleições ou com o acesso deste ou daquele aos centros do Poder (no partido e fora dele), enfim, que «desestabilizam» o aparelho. Mas atenção: falámos de empenhamento de natureza emotivo-intelectual. Isto é, homens de esquerda não são exclusiva nem predominantemente, os chamados «intelectuais». Num texto que em tempos publiquei, a propósito dos militantes e da militância, tive ocasião de distinguir ao nível das lutas e iniciativas concretas que se multiplicaram em 74-15 por todo o país, os militantes «alistados» dos «empenhados», sem assim os designar na altura. Os militantes empenhados eram os activistas locais que, partindo de necessidades colectivas do seu «pequeno mundo», se mobilizavam e mobilizavam os outros para lhes dar resposta, jogando nisso afectividade, energia e inteligência, índependentemenle de quaisquer orientações partidárias. Aí estava a Esquerda, e é aí que também continuará a estar. Outro exemplo: a revolta do mais ignorante e carecido contra situações concretas de injustiça pode ser vivida na passividade e na impotência' mas também pode dar lugar a um alistamento, se se decide transferir para uma organização a gestão dessa revolta, ou a um empenhamento, se se assume a responsabilidade de uma acção colectiva *exemplar" para fazer frente a tais situações.
Extraído de «Sobre a Esquerda: 1 – A ideia e os intelectuais», No Reino dos Falsos Avestruzes. Um olhar sobre a política, A Regra do Jogo, 1983.
Foto: Público.
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