Os artigos e declarações a jornais de Pacheco Pereira na Sábado e no Público, sobre a
Internet política (ver no
Abrupto), merecem atenção a dois títulos.
1.Pela cumplicidade sectária de JPP com as calúnias e desinformação antigovernamental em media e blogs. Em rigor, anti-Sócrates, mas isso é o menos. Relevante é ver a duplicidade de quem não se importa nada com blogs caluniosos e soezes desde que sirvam para atacar o governo, enquanto se queixa dos blogs «de assessores». Mais: servindo-se (Público, 20 de Janeiro) de escutas ilegais publicadas ilegalmente (e truncadas) como «coisa pública». Isso, e os elogios ao jornalismo de Moura Guedes, silenciando críticas que esse já mereceu por parte de homens como Arons de Carvalho, Marinho Pinto, Sousa Tavares, Mário Mesquita, indica bem o género de agenda que JPP aprecia: enquanto critica blogs por repetirem a agenda mediática, critica esta por não ser «dura» o bastante; a realidade (informativa e política) é o que menos importa. É de facto o PCP da Direita, quanto pior, melhor.
Os silêncios, como o relativo ao aparecimento do artigo «censurado» de Crespo no site da Fundação ligada ao PSD, são reveladores (o mesmo se aplica ao silêncio sobre o que Crespo diz sobre o PR e a sua Casa Civil). Mas se ainda hoje brama sobre o Jornal de Sexta e sua «investigação Freeport», quando a célebre «carta rogatória» já foi objecto de condenação em tribunal envolvendo dirigentes do PSD em 2006, mais grave é a comparação do que se escreve sobre Sócrates (e sua família) com o que fez O Independente. Na verdade, o Independente também atacou sectores ligados (de que forma é outro assunto) ao PS, como nas notícias sobre Macau (quando, nesse jornal, José Magalhães criticava a linha editorial, JPP perguntava-lhe porque não deixava de lá escrever, mas isso não era «subserviência», claro). Na verdade, além do PS e do PSD, até a vida pessoal de Cunhal foi devassada pelo Indy de Portas. Nada de exclusivo com os governos de Cavaco, visados sobretudo pela sua posição dominante no sistema político de então. E, diga-se, por coisas sérias e não com rumores infundados (que acusação – nem digo prova – saiu dos sucessivos casos contra Sócrates?). Se a «boca de leão» do anonimato foi real, e condenável, como continua sendo, não faltam casos de governantes efectivamente responsabilizáveis (e alguns até responsabilizados) por notícias de O Independente.
Curioso é ver JPP referir a dimensão judicial de tudo isto, que como se vê não é de agora, como se fosse apenas mais uma, para passar por ela rapidamente. Uma pista involuntária da sua centralidade…
Tudo isto, contudo, tem uma origem: a agressividade (e eficácia, diga-se) do Câmara Corporativa e o defenestramento póstumo do SIMplex. O argumento é duplo, político e legal. Político: ao afirmar que quem colaborou no SIMplex estando a trabalhar para o governo o fez abusivamente («orientações políticas, que é suposto um blogue não receber»), JPP fala como se o blog não incluísse membros declarados dos gabinetes ministeriais ou como se houvesse violação da lei ou quebra de algum código deontológico específico, como o que há para os jornalistas, embora JPP e Moura Guedes não façam muito caso… (curioso que JPP nem note que o que escreve sobre políticos e blogs se aplica muito bem a si.) Legal: JPP fala de dinheiro dos contribuintes, mas será que os seus artigos de jornal sobre História portuguesa são abusivos, pois sabe do assunto pelo estudo que faz pago com o dinheiro dos contribuintes? Essa seria a conclusão lógica, se essa via, a de JPP, interessasse ao debate público… Contudo, o que importa é a infâmia que se lança sobre o «público» e sobre o «governo»: sempre sob suspeita, sempre condenados à partida. Isto é um vício argumentativo antidemocrático, e não só da nossa Direita. Vir embrulhado numa saudade dos tempos do debate blogosférico de há 5 anos, como faz JPP, é apenas apostar no esquecimento de que já há 5 anos o discurso era o mesmo…
2. Que podemos esperar dos blogs políticos?
Ao contrário do que argumenta JPP, a blogosfera não se alterou demasiado, ela sempre foi isto (passe a auto-citação, escrevi-o desde 2003 e, em 2006, quando já escrevia em blogs, tive ocasião de o repetir numa entrevista a Pedro Mexia, no DN). Ela reproduz a lógica de insulto, insinuação, calúnia, frase fácil («viral») dominante no debate público português, mediático e institucional. As excepções não confirmam regra nenhuma, desmentem-na, e, por isso, nunca me arrependi de cortar com blogs que reclamavam-se da Esquerda enquanto alinhavam com campanhas difamatórias, nem nunca me arrependi de escrever para A Linha. Não alinhar com duplicidades é a única coisa ao alcance de cada um, por isso não me custa criticar directamente quem apoia o Governo reproduzindo métodos de insulto e insinuação sobre a vida íntima dos adversários (coisa que todos pagarão caro, cedo ou tarde). Por pouco que seja o distanciarmo-nos desses métodos, é o suficiente para ser vital.
E, uma vez assegurado o essencial: tanto se fala a importância da net para a comunicação política, mas que se sabe disso em concreto? Alguém sabe de quem tenha votado PS por causa do SIMplex? Ou PSD por causa do seu similar, Jamais? Alguém se lembra de uma única ideia saída dos ambicionados think tanks (SIMplex, Jamais, A Regra do Jogo)? Ou lembramo-nos de trocas de insultos, elogios mútuos (demasiado) fáceis, tiradas «virais», comentários incessantes a intrigalhadas jornalísticas sucessivas? Nada há de condenável nessas iniciativas, mas nem por isso passam a ser mais do que são, pequenas iniciativas (por maior que seja o número de pageviews). Aqui em A Linha, outra modesta iniciativa, já referimos bons usos políticos da net, mas daí a centrar nesta a política, só mesmo na mente de quem pensar apenas numas poucas dezenas de milhar de pessoas enquanto fala de Portugal…
Política, em democracia, é discurso. Com consequências, pelo que necessariamente é um discurso auto-controlado. Como pode a blogosfera contribuir para isso? Longe de ser uma pergunta retórica, é de resposta urgente, pois nada deste meio ambiente vai mudar em breve. De momento, a única resposta (minimamente) satisfatória parece(-me) ser: interesse ideológico e cívico, sem facilitismo de moda (importação de «culture wars», etc.); experiência política o mais variada possível (prática, teórica, actual, passada, etc.); sangue frio nas trocas de comentários, para não cair em provocações; acompanhar a agenda mediática apenas no que toca a fact cheking; capacidade de gerar uma agenda de temas própria, o mais ampla possível; disponibilidade para linkar debates de adversários, apesar de desconforto e discussões internas que isso crie; criação de um grupo coeso de colaboradores, para assegurar renovação regular de conteúdos; procura permanente de contributos externos ao do grupo-base; diferenciar sempre o discurso institucional do pessoal; recusa do anonimato e de ondas de endeusamento ou aviltamento de indivíduos; igual exigência deontológica connosco e com outros; e, talvez o mais árduo, manter um mínimo de boa disposição…
CL
PS – Atendendo ao estado a que isto chegou, convirá uma declaração de interesses. Conheço e estimo vários dos demonizados «assessores governamentais», que em comum têm ter vida profissional além dessa caracterização sumária, por sinal todos envolvidos (cada um a seu modo) com blogs, política, comunicação e governo. Não lhes devo dinheiro, oportunidades profissionais, recompensas. Do mesmo modo, não tenho, nem nunca tive, qualquer motivo para duvidar da sua boa fé, seriedade e empenho. Nenhuma escuta, nenhuma insinuação, pode alterar isso.
PPS Este post estava escrito desde o fim de semana. A coincidência da sua publicação hoje com a primeira página do «i» indica apenas a falta de seriedade de quem fala de «perseguições». Solidariedade daqi d'A Linha com o autor de
O Jumento.
2 comentários:
Carlos,inicilamente, quando surgiram os blogs, era comum entrar-se em determinado "blog de referência" e passar-se umas belas horas de volta de dois ou três posts. Eram densos, grandes e expeculativos o suficiente para nos porem em funcionamento cerebral. Hoje parece que já ninguém se quer dar ao trabalho de ler um ver dadeiro post. Se em cinco linhas conseguir o mesmo resultado prático, para quê escrever 55? Enfim. Esta postura permite demasiados facilitismos e as tais frases virais que referes. Estou perfeitamente de acordo com as medidas que apresentas. Vamos aplicá-las desde já aqui n'A Linha.
P.S.-Por uma questão de sanidade pessoal não comento nada de JPP. Causa-me uma certa urticária!
Um abraço
"Até onde vai experiência da administração do Casino Estoril, eles não são melhores que nenhum outro grupo de humanos, apesar de estarem protegidos pelo governo por falta de poder. Mas além disso, não consigo ver nada de 'escolhido' sobre eles "
Dignidade e coerência, com alto profissionalismo, os 112 despedimentos colectivo do casino Estoril esperavam via de regra que a lei, ou a justiça obriga – se a Administração casino Estoril a recuar na ilegalidade cometida.
Vendo o desenrolar humilhante em que hoje nos postamos, o ultraje, o deboche, o declínio do Homem no seu mais vil patamar.
O estado que emana do poder, impiedoso, indiferente, por demais insolente, faz indagar se ainda é válida nossa postura de patriotas.
Todas as artimanhas são legítimas?
Respondo que só não são legítimas porque o ministério fechou os olhos os fiscais do trabalho calaram – se e a justiça prejudica, os incontáveis dramas silenciosos. Episódios de dívidas, despejos e fome.
Pergunto se os tempos chegados não nos enquadram melhor como um governo de hunos varrendo instituições. Instigam-nos e nos forçam a sermos bárbaros e vândalos como última opção de sobrevida.
Que leis, desde as do trabalho até a dos idosos estão em vigor? Que Justiça é relegada e jogada na lixeira?
Com que direito o Estado escarna com desdém milhares de pessoas?
Que vivem honestamente do seu trabalho e só porque um lunático administrador que quer reinar com outsourcings , proferidas do alto pedestal, retrata amargamente o espírito reinante.
O Estado orquestra conforme suas conveniências. E nós? Amargos e indignados, talvez tenhamos que preencher nosso vazio com algumas esperanças, a fim de inquirir e reaver direitos inequívocos, tão calhordamente usurpados.
Os trabalhadores ilegalmente despedidos do Casino Estoril não têm medo de mostrar a cara, e de não fugir dos seus princípios.
O povo já não sabe a quem se dirigir. A Ministros Ecónomia ou Finanças? Ao Ministro da Justiça? Da Procuradoria da Républica? Do Ministério do Trabalho?
A um parco corpo político que sempre nos abraçou? Ao Representante maior do Estado Português? Ao núcleo dos direitos humanos da CEE?
Que tristeza de alma. Que revolta engasgada. Somos parias jogados nas sarjetas da vida.
Até quando? Até quando irão espoliar e deixar ruir uma parcela de seres humanos? Estará o Estado aguardando a morte de todos para aí então finalmente dizer acabamos com o desemprego? e , encerrar esta página insignificante e chata de uma velharia impertinente?
Os valores que todos economizamos na nossa vida, se esvai pelo ralo de burocratas apáticos e indiferentes.
Não Há descanso Na terra enquanto não houver justiça.
Sou um dos despedidos do Casino Estoril
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