Amigo do Seu Amigo
Acho que me custou um emprego - Pelo menos a julgar pela cara que os entrevistadores fizeram após o ter dito - mas foi mais forte do que eu. Quando me pediram que enumerasse uma qualidade minha, disse logo que não iria dizer, como tanta vez é dito “É amigo do seu amigo”. Fico sempre com pena de alguém a quem lhe apresentam isso como a sua maior qualidade. Então se é alguém que ocupa um cargo político dele nem tenho muita pena mas tenho pena dos cidadãos que são servidos por ele. Pois se sempre que essa pessoa tiver que tomar uma decisão política der prioridade aos seus amigos, sabendo eu que ninguém tem muitos amigos (os amigos precisam de dedicação e tempo) ora todos nós sabemos que o tempo é sempre pouco para os nossos amigos e como tal ou não temos ou temos poucos e bons. Ninguém tem muitos e bons!!
Compreendo que não é fácil dizer não a um amigo. Alguém a quem devemos tanta dedicação e lealdade. Custa muito assumir que um amigo nos desapontou. Mas o desempenho de cargos políticos exige de nós a coragem de sermos leais e dedicados aos cidadãos que nos elegem.
A um grande líder politico temos que exigir que entregue os cargos às pessoas mais competentes que existam na sociedade e estejam disponíveis, por muito que divirjamos politicamente, ou mesmo noutros pontos de vista. É dessa norma que se fazem os grandes estadistas e por isso foi essa a regra que Obama elegeu na sua administração. Foi por isso que o vimos a chamar republicanos para a sua administração e principalmente a mantê-los nos cargos quando as suas competências se apresentavam como inimputáveis. E foi por isso que deu o 2ª cargo mais importante da administração à sua maior adversária política interna. Isto demonstra uma visão do cargo muito para além de qualquer questão pessoal. Demonstra um espírito de missão para o cargo que facilita o processo de motivar o povo para servir o país mais do que se servir dele. É difícil pedir a um povo que dê o seu melhor, que se empenhe, que se transcenda, quando a nossa melhor qualidade é ser amigo do seu amigo e as nossas decisões mais não são do que servirmo-nos do cargo em vez de servirmos o cargo.
O conceito que é vendido para que um padre tenha que respeitar o celibato é que não pode ter família porque não pode diferenciar a atenção que dedica a cada um dos seus paroquianos. O mesmo conceito (e não estou a falar do celibato) deve ser aplicado a quem se dedica á mais nobre das tarefas que é servir os cidadãos do seu país. Também um político não deve diferenciar a atenção que dedica a cada um dos cidadãos que serve. Por isso ser amigo dos seus amigos se não é qualidade que se apresente num político. É defeito.
Vitor Brás
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