Em tempo de dificuldades, certos opinion makers anunciam que o primeiro-ministro está refém do poder. Deveriam antes referir que o maior partido da oposição receia ser governo, no que se assemelhará a outros, que apostam tão só em dizer mal de tudo.
Por definição, as medidas de austeridade desgastam a imagem do executivo. Para quantificar esse impacto na opinião pública temos as sondagens, que as há para todos os gostos, incluindo as que apontam para a vitória folgada da sigla PSD, a que melhor identifica os adeptos do Poder Só Depois:
Poder Só Depois, de o mais difícil estar feito; Poder Só Depois, de a perturbação estar aquietada; Poder Só Depois, de o esforço ter sido exigido.
É verdade que a crise endurece o povo. Ele está cansado de expectativas defraudadas, sente-se assustado com o que se passa na Europa e receia o que ainda está para vir.
Portugal enfrenta presentemente um desafio estrutural, uma mudança profunda que extravasa as fronteiras do próprio país. Importa estar à altura do esforço exigido e nada seria então pior do que fugir à realidade: ela é adversa e magoa, desilude e preocupa, mas negá-la seria a maior fraqueza. E os portugueses sabem-no.
Soluções milagrosas, rotativismo inconsequente, já ninguém acredita nisso. Como referiu há dias uma das vozes mais ilustres da nossa direita conservadora, “levámos um banho de realidade.”
Ao sermos traídos por uma má notícia pode suceder que a nossa reacção impulsiva seja a de virar as costas ao mensageiro. Não demorará, porém, até que voltemos a cair em nós e reconheçamos a amizade em quem soube assumir o papel mais ingrato.
Nos últimos dias o Governo tem anunciado diversas medidas de contenção, potenciadoras de reacções adversas. É verdade que desde há muito não se revelava tão espinhosa a tarefa de conduzir o país.
Porém, desiludir-se-á, quem estiver à espera de algum sinal de quebra no primeiro-ministro. Sócrates é impassível. A sua personalidade parece blindada por várias camadas de aço, resistindo a todos os golpes. Ele incorpora aquele género de atitude positiva que nos segredam os livros de auto-ajuda: obstinado como uma rolha de cortiça, por mais que o tentem afundar, volta sempre à superfície. É, ele mesmo, gerador de uma energia renovável, visto que jamais se cansa.
Essa a razão porque nunca Portugal precisou tanto do seu actual primeiro-ministro como agora. As portuguesas e os portugueses estão conscientes de que diga-se o que se disser, aconteça o que acontecer, José Sócrates é, não apenas, o mais constante nas adversidades, como ainda o principal garante da estabilidade política no país e exemplo a seguir por todos nesta decisiva hora de provação.
Paulo C. Ferreira
Clube de Reflexão Política A Linha
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